O sonho de voar habita o imaginário do homem desde os primórdios.
A história mais antiga sobre um voo planado pode ser encontrada na mitologia grega. Para fugir do labirinto onde estavam presos, Ícaro e seu pai Dédalo constroem asas artificiais com cera de abelha e penas de gaivotas. Ícaro, apesar de ter sido alertado por seu pai sobre voar próximo ao Sol, tomado pela sensação de liberdade, voou muito alto e o Sol derreteu a cera de suas asas causando sua queda no mar Egeu.
Durante muito tempo, o domínio dos ares foi considerado uma dádiva divina, da qual somente os deuses e alguns animais poderiam desfrutar. Até que este anseio começou a se materializar na forma de estudos embasados por conhecimento científico que rumavam em direção à concretização do sonho de voar.
Leonardo Da Vinci, em pleno período renascentista, foi um dos que se dedicaram a conceber máquinas que levariam o homem aos céus.
Os primeiros homens voadores
Foram muitos os pioneiros da asa delta que arriscaram a vida, a integridade física, a reputação e a fortuna, com o objetivo de voar. Existe também muita controvérsia sobre os voos bem-sucedidos. Porém, uma coisa é certa: a investigação destes pioneiros sobre a aerodinâmica foi fundamental para o desenvolvimento da aviação e do voo livre.
Sir George Cayley é um desses pioneiros que desenhou e construiu planadores dirigíveis. Cayley, que é considerado um dos primeiros engenheiros aeronáuticos, nasceu na Inglaterra e construiu em 1804 um planador de aparência moderna que tinha uma asa em formato de pipa na frente e uma cauda ajustável na parte traseira. Ele escreveu um artigo intitulado “Sobre Navegação Aérea” que foi publicado no Jornal de Filosofia Natural, Química e Artes de Nicholson entre 1809 e 1810. Neste artigo, enumera os elementos-chave para um voo bem sucedido: sustentação, arrasto e impulso.
Em 1849, Cayley constrói um planador que é voado por um menino de 10 anos de idade. Em 1953, um empregado de Cayley torna-se o primeiro adulto a fazer um voo planado. Uma réplica deste equipamento foi feita em 1973 para um programa de TV. O piloto corajoso desta vez foi Derek Piggott.
Antes disso, em 1757, um inventor francês fez o primeiro salto de paraquedas de que se tem notícia. Louis-Sébastien Lenormand saltou da torre do observatório Montpellier na frente de várias testemunhas usando um paraquedas de 4 metros feito com uma estrutura de madeira.
Em 1783, os irmãos Joseph-Michel Montgolfier e Jacques-Étienne Montgolfier fizeram um voo de 2 km em um balão de ar quente construído com tecido preso com botões e com 3 camadas de papel por dentro.
O alemão Otto Lilienthal foi o primeiro a realizar voos planados sem cabos ou cordas. Ele realizou cerca de dois mil vôos planados entre 1891 e 1896, atingindo em alguns cerca de 350 metros de distância. Várias vezes, ele conseguiu subir mais alto que o seu ponto de partida. Otto morreu no dia 10 de agosto de 1896 por conta das lesões de uma queda de planador sofrida no dia anterior.
Já em 1948, o americano Francis Rogallo, que trabalhava na NACA (National Advisory Committee for Aeronautics), agência que antecedeu a NASA, criou e patenteou uma asa flexível. O objetivo da invenção era criar uma aeronave simples e barata o suficiente para que qualquer um pudesse ter. Esta asa foi o equipamento precursor da asa delta e do parapente. Uma curiosidade que vale ser notada é que os membros da associação americana de asa delta e parapente são chamados membros-rogallo.
O voo livre como conhecemos hoje, teve início na Austrália e seu precursor foi o engenheiro e inventor John Dickenson. John havia lido sobre a invenção de Rogallo e, inspirado, construiu a asa delta moderna em 1963, abrindo as portas para um novo esporte. Bill Moyes era seu piloto de testes. O sistema de controle de pêndulo por mudança do centro de massa era bastante intuitivo e a asa era fácil de voar. Quase 50 anos depois de sua criação, a asa de Dickenson ainda é a base para as asas mais modernas.
No início as decolagens eram feitas com skis na água. Em 1969, Bill Moyes fez a primeira decolagem de uma montanha. No mesmo ano, Bill fez um voo de lift em uma montanha.
Enquanto isso, ainda nos anos 60, o americano David Barish que trabalhava como consultor em aerodinâmica para a NASA, desenvolve um paraquedas com melhor performance em termos de planeio. Seu paraquedas tinha uma superfície única de tecido e um planeio de 4,2/1. Apesar de ter tido conhecimento sobre a invenção de Rogallo, Barish começou seu trabalho de forma diferente porque não tinha interesse em usar estruturas rígidas em seu paraquedas.
David, movido por sua própria curiosidade e interesse, leva seu equipamento para o alto da montanha Hunter em Nova Iorque e decola em 1965. Ele realiza diversos voos desta montanha e de outras. Nasce assim o esporte que na época era chamado de “slope soaring”.
Paralelamente, em 1964, o canadense Domina Jalbert solicita a patente de um paraquedas cujo velame é composto por células feitas com uma superfície dupla (intradorso e extradorso) para gerar o efeito de asa.
Na França alguns paraquedistas decidem decolar de monatanhas com seus paraquedas. Estes paraquedas, talvez por influência das descobertas de Barish e Jalbert, já tinham desenho moderno com formato retangular e superfície dupla. No dia 5 de maio de 1979, é fundado o primeiro clube de parapente: “Les Choucas”, que está em atividade até hoje, e em 1988, o clube anteriormente afiliado à Federação Francesa de Paraquedismo, afiliou-se À Federação Francesa de Voo Livre.
Voo livre no Brasil
O voo livre chega ao Brasil através do francês Stephan Dunoyer de Segonzac que realizou a primeira decolagem de asa delta no Rio de Janeiro em 1974. Algumas fontes dizem que o primeiro voo foi feito do Cristo Redentor, mas o relato de um cinegrafista amador mostra que houve um voo na semana anterior feito de um local entre a Pedra Bonita e a Agulhinha, possivelmente do local onde é hoje a rampa de São Conrado. O voo foi filmado e está disponível online em http://www.youtube.com/watch?v=pSe6fDXlkLY&feature=player_embedded. Este cinegrafista trabalhava no escritório do Sérgio Bernardes, dono do terreno da Pedra Bonita naquela época e o responsável pela construção da estrada que dá acesso à rampa até hoje. O francês tinha ido ao escritório de Sérgio Bernardes para pedir autorização para realizar o voo.
O primeiro brasileiro a voar de asa delta foi o carioca Luis Claudio Mattos em 7 de setembro de 1974. Em novembro de 1975, o número de pilotos já era mais de uma dezena e resolveram então realizar o 1o campeonato Brasileiro de Vôo Livre.
O parapente foi trazido ao Brasil pelo suíço Jerome Saunier em 1985 que fez o primeiro voo de parapente da pedra Bonita, no Rio de Janeiro. Jerome ainda mora no Brasil, em Canoa Quebrada, e voa até hoje.